01/04/2014
LONDRES, REINO UNIDO, 1 de abril (Folhapress) - A privatização do tradicional Royal Mail, serviço de Correios do Reino Unido, em outubro do ano passado, transformou-se hoje em pivô de uma crise política e financeira.
Uma investigação do órgão de auditoria vinculado ao Parlamento apontou falhas do governo que geraram perdas de pelo menos 750 milhões de libras (R$ 2,8 bilhões) apenas no dia 11 de outubro, primeiro dia da operação de venda de ações. O preço da ação subiu em 24 horas de 3,30 libras para 4,5 libras naquele dia. Com 500 anos de história, o Royal Mail é um patrimônio local -conhecido principalmente pelas caixas vermelhas decoradas com a coroa real.
O governo vendeu 60% das ações do Royal Mail e ficou com 30% -os outros 10% foram dados aos funcionários. A venda rendeu 1,98 bilhão de libras (R$ 7,45 bilhões) aos cofres públicos. Desde outubro, porém, a empresa valorizou 70%, o que, segundo a auditoria, mostra que o governo subestimou seu preço ao privatizá-la.
O cenário político britânico tem acirrado o debate em contagem regressiva para as eleições gerais de 2015. O episódio do Royal Mail tem sido atacado pelo Partido Trabalhista, da oposição, que já criticava sua venda mesmo antes de ser concluída.
A pressão política está em cima do ministro dos Negócios, Vince Cable, do Partido Liberal Democrata, que defende a operação feita pelo governo do primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador. Sob pressão, Cable se negou a reconhecer algum erro no processo. "A última coisa que pretendo fazer é pedir desculpas", afirmou.
Em comunicado, ele disse hoje que o governo tomou a cautela necessária ao estipular o preço das ações, apesar de conselhos de bancos consultores de que o valor estava abaixo do que realmente valeria. "Para mim está claro que tomamos as medidas corretas para garantir o sucesso da transação", disse. "Não havia confiança de que um significado número de compradores ofereceria um alto preço", afirmou o ministro.
A investigação divulgada hoje mostra ainda que um pequeno número de acionistas foi beneficiado poucas semanas depois da privatização. Haviam sido nomeados como "investidores prioritários", porque o governo dizia que fariam parte de um grupo estável e que ficaria a longo prazo no Royal Mail. Entretanto, segundo a auditoria, grande parte ações obtidas por eles foi vendida pouco depois de outubro.